Abrolhos

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O Médico e a Morte

Recentemente eu estava de plantão e, lá pela madrugada houve uma parada cardíaca de um paciente internado. Fui chamado e era uma pessoa relativamente jovem, portadora de uma doença grave, mas não de imediato fatal. Teve uma complicação e parou de respirar. Ao chegar lá fizemos os procedimentos de praxe mas não adiantou e ela faleceu. Eu era a pessoa que tinha que comunicar a família do óbito. Este é o momento mais espinhoso da minha profissão. Prefiro falar de uma vez prá acabar logo com isso.
Às vezes eu me pergunto qual é o real papel do médico nos desígnios divinos. Se Deus atendesse todos os pedidos de evitar a morte, seríamos uma legião imensa de zumbis, vivendo sem sentido.
Para se trabalhar com medicina e espiritualidade é preciso ter em mente alguns conceitos. Primeiro de que a morte e o sofrimento são absolutamente indispensáveis ao crescimento do espírito. Mudam-se os valores, acertam-se dívidas, renova-se o ser humano. Segundo, que ao médico não cabe julgar se tal pessoa merece morrer ou sofrer. Ele é um instrumento, vamos dizer, do destino. Se este indivíduo chegou até ele, tem-se que fazer de tudo para evitar ou minorar seu sofrimento. Acho que Deus usa o "mal médico" também para fazer o contrário, claro que ele também vai sofrer consequências, mas, nunca devemos pensar que a pessoa que sofreu uma negligência, omissão ou imperícia seja uma pessoa ruim, pois, mais uma vez repito que a morte não é necessariamente um mal.
Mas existem situações que realmente fica difícil assumir uma postura. Por exemplo: uma pessoa em morte cerebral, ou câncer terminal, sofre uma parada cardíaca, você vai reanimar? Provavelmente não. Quantas vezes prolongamos o sofrimento de uma pessoa que perdeu toda a sua família e ficou só, que tem doenças graves mas controláveis. Isto sim, é difícil. Mas, se chegou em nossas mãos, vamos cumprir a cartilha. No fim, não deixa de ser um trabalho fascinante. As rosas superam os espinhos.
Para concluir, para aqueles que se consideram vítimas de um mal atendimento médico, gostaria de dizer que vocês têm todo o direito de processar o médico ou a instituição que lhes atendeu, pode até ser salutar para aqueles que necessitam de correção, mas não se esqueçam que tudo é parte de um Destino Maior e que somos co-responsáveis por tudo que nos acontece. Esse sentimento tem que ser cultivado com afinco para dissolver as mágoas e rancores. Bjos.

Um comentário:

  1. Eu concordo parcialmente, até um certo ponto, vc está certíssimooooooooooooo,

    mas em certo momento pareceu ser tudo muito natural, e a morte quando há imperícia realmente comprovada não é natural, sei que com o tempo as "mortes" em todas suas facetas, aos profissionais tornam-se ossos do ofício, mas se coloque recebendo esta notícia?

    e coloque-se sabendo que foi por imperícia, se coloque ainda, sabendo que o Conselho é patronal e ele nada fará, pois defendemos os nossos a qualquer custo e isso é natural tanto no ser humano quanto na natureza, não queremos abrir precedentes,

    apenas quando é muito gritante aos olhos é que se é tomada uma providencia, mesmo assim ela parte primeiramente do judiciário

    é injusto olhando por esta ótica, mas o que estaem pauta me pareceu ser a notícia aos familiares, essa deve ser a parte que no começo da carreira do profissional deva abalar demais, e agora Doutor, depois de muitos anos, o Sr. não especificou, como fica o emocional do médico ao dar tal notícia aos familares, que apesar de saberem as vezes de se tratar de uma doença terminal tem a esperança de que o pior nunca irá acontecer.......

    grande abraço

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