Abrolhos

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Mãe

Se mulher já é difícil de entender, a mãe é a sua versão em hieroglifos. A mulher, quando quer ser mãe, já assina um contrato de sofrimento por anos e anos, porque, no mínimo a criança vai ficar doente, vai ter problemas na escola, vai ter a rebeldia natural do adolescente, vai ter más companhias (o filho dela nunca é a má companhia), vai ter contato com drogas, pular de paraquedas, vai arranjar um(a) namorado(a) que ela vai se antipatizar. A mãe vai sofrer a ingratidão, o conflito de gerações, os valores que mudam a todo instante, etc. Que amor íncondicional é este, a ponto de esconder a droga do filho em casa, de visita-lo na cadeia seja qual for o crime cometido, de passar meses ou anos ao lado do filho na UTI, de cuidar do altista, do deficiente mental, de ouvir o filho policial contar suas aventuras e desventuras quotidianas?
Nada me tira da cabeça que a mãe projeta parte de si nos filhos, quando vai bem é uma vitória pessoal, é o resultado daquilo que saiu de seu útero, de muitas noites mal dormidas, de muito leite de seu peito, uma extensão de si.
Quando vai mal, é falha sua, é a sensação de que poderia fazer melhor, enfim, um caminhão de culpa nas costas.
Toda mãe deveria ser espírita, na doutrina você tem até 50% de desconto (não, não é liquidação) tanto no sucesso quanto na culpa, porque a educação na família é muito importante, mas parcial, depende do nível de evolução daquela alma, se for pequeno, não há resultado perfeito e se for alto, existe muito o mérito próprio e não só a parte dela (e do pai). Mas isto é racional, e o racional não floresce muito neste meio de cultura. Ainda somos animais, e protegemos nossa prole. A mãe tem o sono mais leve, herança do tempo das cavernas para ouvir possíveis predadores rondando. Protegiam seus filhos com o próprio corpo. Isso não se apaga facilmente.
Quando a gente tenta aconselhar a mãe que sofre, de que a responsabilidade não é mais sua quando seu pimpolho, que na verdade já é um marmanjo barbado, escolheu aquele caminho que não é aquele que ela queria (não estou falando só de bandidagem, mas de tudo, até daquela nora que briga com ela) de nada ou pouco adianta. É chorar e rezar, chorar e rezar repetidamente. E vai pegando na coluna, no estômago, no coração (sempre apertado). Esse cordão umbilical é feito de tungstênio, o metal mais duro que existe. Estou falando no geral, nem toda mãe é assim e, é claro, existe o oposto, o descaso total e, raro, o meio termo. Mas mãe virou uma instituição imutável, no famoso clichê: Mãe é mãe. E já existia e vai existir para sempre ou até que a engenharia genética prove o contrário. (Espero que não, por bem ou por mal acho que prefiro ter uma mãe de verdade, com suas virtudes e defeitos.)
Que será que Deus queria quando inventou a mãe: Se é instinto materno, natural, por que o corpo tem que sofrer tanto? É possível um modelo mais equilibrado no futuro? Bjos.

Um comentário:

  1. Lindo texto. Queria ter minha mãe aqui comigo agora!
    Beijos, Silvia.

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