Abrolhos

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Drogas e Emoções

Um dia eu li uma entrevista com o Dalai Lama em que o repórter perguntava qual a saída para o mundo ocidental cada vez mais violento e ele disse que, enquanto as pessoas continuassem ávidas por emoção, não haveria saída.
Na questão das drogas todos os personagens em questão são viciados em emoções. Vamos começar pelo personagem principal, o usuário. Geralmente ele é uma pessoa com componentes de caráter bons, mas que tentou preencher o vazio de sentimentos, ou de sentimentos negativos por emoções, assim como o é aquele que come demais, bebe demais e outras coisas que de boas para ruins só precisam de um aumento na dose. Ele é ávido por emoções, que só tem no início do vício e depois só sente necessidade de evitar o mal que a ausência da droga lhe faz. Vive frustrado pela ausência daquelas emoções do início e o alto preço pago por isso.
Depois vamos para a mãe, o pai ou o cuidador. Ele é viciado num tipo diferente de emoção. Masoquismo também é um tipo de emoção. Sob o pretexto de que fulano é da família, o cuidador se anula e cria um sentimento confuso de amor e ódio que vai entranhando e preenche o seu também vazio de existir. Quando os pais não impõe limite aos filhos é por medo de serem abandonados, têm sua auto estima em baixa e se vendem pos brinquedos, roupas e tudo o mais que lhes é pedido. Não vivem os sentimentos, mas as emoções desse relacionamento.
Vamos para o traficante não usuário. Viciado no dinheiro sabe lá porque vazio tenha, ele precisa de sempre mais, não se importando com o que possa causar à sociedade. Assume riscos, é viciado em adrenalina. Mais e mais emoções.
A polícia, salvo excessões, é viciada pela emoção da perseguição, da caçada, não se importando se a cadeia e tudo que ela tras, vai contribuir para a recuperação do indivíduo. Claro que tem a satisfação de livrar pessoas de bem dos bandidos, mas eu acredito que a linha para o prazer doentio é muito fino.
A sociedade que se alimenta de notícias de violência, se alimenta de emoções. Pede leis mais duras para o combate às drogas, mas se tiver algum parente envolvido, não tem coragem de denunciar. Por que sabe que não é esse sistema que vai recuperá-lo. A pessoa sai do notiuciário, vai para a novela atrás de mais emoções.
Será que a gente ainda sabe viver na sanidade? Sabe que não pode viver sem emoção, mas sabe dosá-la? Sabe conversar com o outro, sentir o outro e escrever uma história autêntica? Com sentimentos autênticos? A proibição das drogas vem do medo de nossos filhos se perderem no vício, medo de não termos cumprido o nosso papel de pais, de não termos dado formação e amor suficientes para que a escolha pelo não consumo seja natural. Toda proibição pura e simples gera violência. Não foi assim no comunismo? Não foi assim na Ditadura?
Eu acho que as drogas deveriam ser liberadas, de forma progressiva, começando com a maconha e só a partir de uma idade que represente um relativo amadurecimento da pessoa. Mas algumas coisas deveriam ser acordadas entre a sociedade para deixar de lado o emocional da questão. Primeiro um amplo serviço psicológico deveria ser oferecido para o usuário. Depois a imprensa deveria, no máximo, divulgar estatísticas e não expor a população ao horror humano, que já ocorre proibindo ou não. Por último, a produção seria caseira, limitada a uns 4 metros quadrados, para evitar que a indústria tome conta aumentando muito a oferta. Bjos.

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